domingo, 22 de abril de 2012

Teorema, de Pier Paolo Pasolini (1968).


Queria postar alguma coisa sobre esse filme, a que assisti recentemente, por indicação de uma amiga. Na verdade, nem sei bem o que vou escrever, visto que não manjo nada de linguagem cinematográfica. Espero que não pareça que estou querendo fazer uma crítica fajuta, ou algo do gênero. Meu único objetivo é falar um pouquinho sobre o longa, que muito me agradou. É só pitaco, tudo bem?
Pasolini era um comunista italiano, cineasta graduado em literatura, homossexual. Nascido em 1922, quando realizou Teorema, aos 46, já tinha bastante experiência em cinema. Eu acho interessante notar que seu perfil era quase um clichê, para alguém que marcaria o campo das artes no emblemático ano de 1968. Nunca é demais lembrar que esse é o ano X das mobilizações estudantis pela Europa, um ano considerado revolucionário, no qual o grande inimigo habitava o terreno da cultura. 68 marca a luta contra valores, a luta por ideias.
Teorema, a meu ver, encaixa-se perfeitamente neste contexto. O filme retrata a crise do sistema capitalista, a partir da desestruturação de um dos seus pilares fundamentais: a família burguesa.
Na primeira parte da narrativa, um sujeito misterioso hospeda-se na casa de uma família tradicional. Um a um, os membros dessa família vão sendo seduzidos por esse rapaz: primeiro a empregada, depois o filho, a mãe, a filha e, por fim, o pai. A segunda parte começa quando o hóspede se vai, deixando um imenso vazio naquele ambiente. Cada um dos personagens tem sua vida radicalmente transformada. A empregada passa a levar uma vida ascética, alimentando-se de ervas e realizando milagres; o garoto se descobre homossexual e resolve ir embora de casa para construir uma vida de artista; a mãe começa a buscar aventuras sexuais com rapazes mais jovens; a filha entra em estado catatônico e é internada; o pai abandona sua empresa.
Na brilhante cena final, Paolo, o pai, despe-se completamente em plena estação ferroviária e vaga nu pelo deserto. O grito que encerra a película é das coisas mais significativas que eu já vi no cinema. Expressa, de modo soberbo, a liberdade quase franciscana de quem deixou tudo para trás e pode agora buscar o novo. Por outro lado, fica a sensação de angústia de quem vê o mundo desmoronando e não sabe pra onde ir, na imensidão daquele deserto que é a sua interioridade.
Em Eros e Civilização (1955), Herbert Marcuse realiza o casamento entre seus pressupostos marxistas e a teoria Freudiana. Para ele, é possível construir uma nova sociedade sem a repressão sexual que possibilitou a existência humana e que sustenta a experiência moderna. A repressão da sexualidade é a responsável pela sociedade falocêntrica e alienada, em que não passamos de predicado da nossa própria criação.
Não sei dizer o quanto Pasolini estava contaminado por esse aparato conceitual, mas com certeza, estava pelo espírito geral de sua época. Nesse sentido, o diretor reflete justamente sobre a crise do núcleo familiar a partir das relações sexuais, tanto as relações efetivas quanto as reprimidas. A transformação social se daria, dessa maneira, pela crise das relações simbólicas de dominação sexual no seio familiar. Esse, ao que parece, é o teorema a ser demonstrado, que dá nome à película.
Ocorre que, no filme, nem tudo é expresso com todas as letras. Aliás, o grande mérito do diretor é explorar significados e sensações através dos olhares, dos corpos, do grito. Por isso, não quero deixar ninguém intimidado. Não precisa ter lido esse ou aquele livro pra ver o filme, não precisa ter a mesma interpretação que eu. Muito pelo contrário, o que mais me agrada nas artes é que cada pessoa terá uma relação muito diferente com aquilo que é visto.
Bem, fica minha recomendação de filme genial e inesquecível. Ele pode ser baixado via torrent, tem no The Pirate Bay. Se o fantasma do Pasolini voltar do céu e puxar seu pé, cobrando os direitos autorais, eu retiro tudo o que disse. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Portão


Nos idos de 2008, encontramos uma salsicha solitária, conservada no freezer de uma república suja. Era o nosso freezer, da nossa república contaminada com a nossa sujeira; e sim, aquela definitivamente era nossa salsicha, comprada com o suor do rosto dos nossos papais e mamães... Era nossa, por direito! Acontece que a salsicha era rebelde, fugiu do seu saco e do seu destino... Não virou recheio pra cachorro quente, virou revolucionária.
Foi meio por acaso que conhecemos Salsichards, com seu bigodón e belos olhos azuis. Na verdade, nem lembro ao certo como tudo aconteceu. Imagino a fome furiosa que tínhamos na brisa noturna de um dia qualquer, quando vasculhamos a geladeira atrás de alguma coisa que pudesse ser devorada e encontramos a salsicha revolucionária, recusando-se terminantemente a cumprir sua função social de ser comida.
Nós, por outro lado, de revolucionários não tínhamos nada. Não passávamos de vagabundos: deitados o dia inteiro, tomando café, colecionando bitucas e brincando de “adivinhe a música”; ou fazendo qualquer coisa que nos convencesse de que estávamos ocupados demais pra ir à aula.
Salsichards nos persuadiu a criar esse blog e escrever sobre as coisas da vida, a sair daquele marasmo e dizer algo ao mundo. Nós apenas nos deixamos levar por suas palavras de ordem e fizemos um esforço mínimo pra escrever aqui. Uma vez a cada muitos meses, alguém punha a bunda na cadeira e despejava alguma irrelevância. Até que finalmente, sem mais nem menos, nós paramos de postar. Eu parei de escrever. A fonte havia secado.
Acontece que outro dia, vejam só, ao abrir o freezer aqui de casa, dei de cara com o velho amigo Salsichards. O safado veio até Jundiaí só pra me pregar uma peça. Conversamos por horas... Ele me disse coisas sobre a Revolução das Salsichas e passou o resto do tempo insistindo pra que eu voltasse ao blog. E como sou volúvel, aqui estou!
Estar de volta é como estar no freezer com Salsichards. É estar entre velhos amigos. É congelar o tempo, deixando a amizade sempre conservada. É suprimir o espaço, estando em São Paulo, Jundiaí, Londrina, Itapetininga, Bauru e Berlim tudonomesmolugar. É despejar alguma irrelevância de forma metafórica pra parecer inteligente. É não saber como terminar o texto e mesmo assim fazê-lo.


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