O sítio era pequeno, provavelmente corria o risco de ser rebaixado da categoria "sítio" caso fosse alguns centímetros menor. Um pomar, uma horta, animais, enfim, tudo o que se encontra num sítio, havia lá.
Oito horas da manhã, o caseiro estava ali sentado, encostado na jaboticabeira. Meia idade. Barba por fazer há quatro, talvez cinco dias. Pele clara. Tinha os olhos azuis, caídos, e vermelhos, também com um toque amarelado, provavelmente resultado da soma das incontáveis doses de cachaça da madrugada anterior com a aparente cirrose hepática.
Ela tinha oito anos. Era verão e ela usava uma camisola rosa, um pouco acima dos joelhos, chinelos brancos e os cabelos presos por um laço, também branco. Corria atrás das pombas, tentando fazer disso algo divertido, enquanto a avó, dona do sítio, preparava o café.
Os olhos vermelho-amarelados a observavam enquanto brincava. Ela retribuía o olhar e sorria, inocentemente.
O homem acenou com a mão:
- Ei! Pequena! Venha aqui me dar uma ajuda.
Caminhou até ele. Logo notou suas pernas fechadas e as mãos sobre algo, entre sua barriga e as coxas, que ele parecia esconder. Parou em sua frente, já com o olhar curioso, imaginando o que haveria escondido ali entre suas pernas. Seria uma fruta? Uma pedra, uma flor? Não, ela não conseguia disfarçar. Queria saber o que tinha em suas mãos. Ele percebeu e prontamente sorriu um sorriso cínico, vulgar. Talvez o lobo-mau tivesse aquele mesmo sorriso no rosto quando a Chapéuzinho Vermelho se aproximou dele.
Ele abriu uma das mãos. Segurava, com a outra, o pinto.
No mesmo momento, o olhar curioso da menina tornou-se espantado. E antes que ela pudesse reagir, ele a pegou pelo braço.
- Venha cá, não tenha medo... pode fazer carinho.
Ela não queria, forçava seu corpo para a direção oposta. Mas ele era mais forte, muito mais. Puxou o frágil braço dela em direção às suas pernas e a fez tocar o pinto.
- Isso... agora faz carinho. Pode fazer.
Ela estava assutada, mas obedecia. Sempre calada.
- Viu como ele está gostando?
Ela continuava calada, acariciando. Ele também acariciava.
- Bem, agora vamos fazer o seguinte... vamos colocá-lo ali dentro.
Não, ela não queria.
- Vamos, não precisa ter medo!
Ele se levantou, ainda com o pinto na mão, e a levou com ele, pelo braço.
Ela olhava o pinto.
Viu quando o homem, cambaleando, colocou o pinto dentro do galinheiro e fechou a portinhola.
A galinha ficou feliz em rever o filho fujão.