Hoje,
minha vontade era de escrever um poema. Sentei, pensei, peguei papel e lápis
como eu costumava fazer antigamente... Mas não saiu absolutamente nada. É
engraçado como parece que antes eu tinha uma facilidade enorme de colocar a
vida em versos. Hoje, isso sempre parece uma prisão. Parece que a métrica de um
poema só vem pra castrar tudo aquilo que está escondido, que quer escapar...
Hoje, não consegui metrificar, mas preciso expurgar um pedaço de mim que vem deteriorando
minha razão.
Enquanto
a vida vai passando, tenho pensado sobre a passagem da vida. Sentido a velhice...
Tão velho e tão novo... Vivi meus últimos anos com tanta intensidade... Ainda
não vivi nada.
Estava
no youtube, ouvindo as mesmas canções que venho ouvindo há tempos. Achei um
vídeo muito bonito de Caetano, Bethânia e Dona Canô cantando juntos. Assisti
repetidas vezes; como se a voz de Bethânia já não fosse motivo suficiente pra
ficar ali por tempo indeterminado, reparei na expressão da velha mãe... Lembrei
da minha vó, quando cantamos com ela alguma canção antiga... É a mesma
expressão. Aquela face de quem assiste a um filme inteiro enquanto aprecia os
versos e a melodia de uma velha amiga música. A face de quem viveu tantas
histórias, que nem pode mais contar.
E lá
no fim, envelhecer é só isso... É ter mais vida guardada na memória do que espalhada
no presente. A velhice é um olhar que vagueia, procurando lá dentro o que
juventude procura pelo mundo: a nós mesmos.
Fique
com o vídeo, que eu vou dar umas bandas por aí.